domingo, 26 de junho de 2011

Deixe-se levar pela batucada de uma das lendas mais populares do Brasil

A peça “O Negrinho do Pastoreio” foi encenada pela Oigalê Cooperativa de Artistas Teatrais no dia 19 de maio, às 17h, no bairro da Praia Grande, no Centro Histórico da cidade de São Luís – MA, como parte da programação da VI Semana de Teatro no Maranhão. O grupo, criado em 1999, em Porto Alegre, já produziu oito espetáculos teatrais, dos quais três tratam sobre lendas e contos riograndenses. A Oigalê realiza periodicamente espetáculos de teatro de rua nos parques e praças, escolas e entidades, além de já ter se apresentado em nível local, nacional e internacional.

A sonoridade da voz dos atores, o figurino peculiar, os instrumentos musicais utilizados, o contato com o público... Inúmeros fatores contribuíram para trazer autenticidade à peça de teatro de rua “O Negrinho do Pastoreio”, fruto de uma adaptação livre da lenda homônima de Simões Lopes Neto.

O espetáculo inicia com uma cantiga animada que apresenta o grupo teatral aos presentes, que rapidamente começam a afluir ao local, atraídos pela cantoria. O negrinho do pastoreio é considerada a lenda mais autêntica do Rio Grande do Sul. Na adaptação feita pela companhia, conta a história de um escravo que, em decorrência de ter perdido uma corrida de cavalos, é cruelmente torturado até a morte pelo seu senhor e passa a ser conhecido como procurador das coisas perdidas. Basta apenas acender um toco de vela pro Negrinho. Se ele não achar, ninguém mais acha.

No decorrer do espetáculo, o profissionalismo do grupo ressalta as características do teatro de rua. As falas, com sotaque gaúcho carregado, são plenamente audíveis e descontraídas. A influência do circo-teatro, através das acrobacias e pernas-de-pau, e da commedia dell’art, por meio do uso de máscaras e figurinos que identificam os personagens, era visível.

O roteirista do espetáculo acertou ao desenvolver a trama de forma a manter os olhos do público ocupados enquanto outro “cenário” era construído para o ato seguinte. Destaca-se a cena na qual a virgem com seu imenso manto azul surge “de repente”, demonstrando o potencial que o figurino, além de outros acessórios, apresenta no teatro de rua para construir o cenário.

Notaram-se também o uso de códigos não verbais (mímicas) e as cores intensas do figurino como recursos para dar expressividade às cenas. Outra característica que traz originalidade à obra é a trilha sonora, que foi tocada pelos atores com diversos instrumentos, entre os quais havia itens peculiares da época que se desejava retratar.

Como o teatro de rua possui uma intenção explícita de criar encenações para ser apresentadas no espaço público, a relação entre atores e platéia se diferencia do encenado no edifício teatral. Na peça “O Negrinho do Pastoreio”, inúmeras vezes os atores interagiram com o público, assim como este interferiu no desenrolar da trama. Uma passagem engraçada aconteceu quando um dos espectadores declarou: “Mas nessa peça eles só falam de preto!”.

Tomando em consideração o contexto histórico abordado, há destaque para as temáticas da escravidão e do preconceito contra o negro, que foram representadas em diversas cenas nas quais o negrinho era espancado e humilhado. Segundo Hamilton Leite, um dos atores da Oigalê, o espetáculo pretende colocar o negrinho como um ser humano oprimido, diferentemente da lenda, que o apresenta como um coitadinho. Talvez um exemplo dessa pretensão seriam as cenas nas quais o negrinho se recusa a obedecer aos seus senhores. Contudo, essa intenção não ficou muito perceptível na apresentação.

A intervenção divina no auxílio ao negrinho, depois de ter passado por poucas e boas, demonstra a visão de que esse extrato social só pode alcançar justiça ou alívio através de uma divindade. O roteiro poderia fazer uma breve referência aos atuais preceitos democráticos que prevalecem no Brasil e que asseguram, pelo menos no papel, justiça social a todos os brasileiros.

Excetuando-se os poucos aspectos críticos discutidos anteriormente, o espetáculo “O Negrinho do Pastoreio” é uma obra rica, autêntica e representativa da cultura brasileira, que discute temáticas, infelizmente, ainda atuais, de uma forma descontraída. A metodologia de apresentação utilizada, o teatro de rua, também contribui para a originalidade da obra, assim como a trilha sonora de época produzida ao vivo pelos próprios atores.

Rodrigo Oliveira

Estudante do 6º Período do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O TEATRO COMERCIAL E O TEATRO EXPERIMENTAL

  
GIGI MOREIRA - 19.05.2011, São Luís-MA.


OFICINA DE CRÍTICA TEATRAL DA
VI SEMANA DO TEATRO NO MARANHÃO
Prof. Ferdinando Crepalde - USP/SP

O TEATRO COMERCIAL E O TEATRO EXPERIMENTAL

Entendo que as “companhias” que produzem o teatro comercial objetivam basicamente o recurso financeiro onde o produto “O espetáculo” é a fonte geradora desta transação econômica a que chamamos de “comércio”, neste sentido me parece que não há nem uma preocupação na transformação social do público que nesta situação assume apenas o papel de mercador, comprando simplesmente a sua diversão o que por outro lado e ao contrário chamaríamos de teatro experimental.
Já este último, o experimental, é praticado por “grupos” que tem um compromisso mais ideológico do ponto de vista da arte como suscitadora de uma discussão política e democrática, pode ser também visto como teatro de laboratório, de investigação ou mesmo conhecido como de vanguarda, pela sua função política e social. Atualmente este teatro encontra dificuldades para a sua sobrevivência, pois não atende as características do que chamávamos anteriormente de “o teatrão” aquele em que o público acha graça, sorri e não chora, pois o mesmo não tem a fome do direito ao acesso dos bens culturais por falta de uma política pública de cultura neste País.
De qualquer forma podemos compreender o teatro experimental como uma manifestação de liberdade contra qualquer ordem estabelecida ou qualquer preconceito, fazendo uma ruptura com a estética do teatro tradicional, vivenciando experiências mais populares, explorando as diversidades culturais, buscando uma prática de inovação e reciclagem constantes, valorizando  todo processo de produção do grupo no diz respeito a pesquisa, economia, ou seja, a todo desenvolvimento de sua própria gestão, com consciência e posicionamento sócio, político e ideológico do grupo.